Os bons momentos não se esquecem
Do Alto das Fiandeiras
Por: Manuel Luís Costeira
Fez 50 anos no passado dia 9 de Dezembro de 2006, que se efectuou o grandioso cortejo de oferendas, em favor do Hospital da Misericórdia da então Vila de Mangualde.
Os ecos deste grande acontecimento de solidariedade demoraram a apagar-se na memória da gente do nosso concelho. Alguns Abrunhosenses, felizmente ainda no nosso seio e que viveram tão grande realização, recordam com saudade as inúmeras imagens que jamais se apagarão nas suas memórias.
Na verde mocidade dos 13 anos fui um dos camponeses do bonito rancho que, de saco às costas os rapazes e de cesto no braço as raparigas, levamos ali as nossas oferendas, carros de bois enfeitados e carregados com os mais diversos donativo, foram conduzidos por esbeltas, bonitas e elegantes raparigas desse tempo que como dizia o provérbio; “Que lindo ranchinho de moças ou que bela mocidade, criadinhas numa aldeia parecem de uma cidade”.
Todos os carros iam bonitos, mas o que mais prendeu a atenção da numerosa assistência foi o moinho com o moleiro, logo seguido da bem albardada mula, com a jovem moleira a cavalo, ladeada por dois pequenos taleigos de farinha.
Meu Deus, que frio e que geada nesse dia de Inverno de Há meio século!!!
Também não se pode esquecer a fome que passaram os figurantes. Valeu-nos aparecer o Sr. Pina, que era de Vila Nova de Espinho e nesse tempo vendia tremoços. Dos dois cestos de alqueire num ápice desapareceu o seu conteúdo e assim seguimos alar o estômago. Junto à antiga casa do Conceição, que havia no centro da Vila, estivemos parados muito tempo, o nosso e outros ranchos a tinir de frio e a barriga a dar horas, as forças poucas e a vontade ainda menos para cantar.
Também não se pode esquecer a fome que passaram os figurantes. Valeu-nos aparecer o Sr. Pina, que era de Vila Nova de Espinho e nesse tempo vendia tremoços. Dos dois cestos de alqueire num ápice desapareceu o seu conteúdo e assim seguimos alar o estômago. Junto à antiga casa do Conceição, que havia no centro da Vila, estivemos parados muito tempo, o nosso e outros ranchos a tinir de frio e a barriga a dar horas, as forças poucas e a vontade ainda menos para cantar.
Para sempre perdurará a grandiosidade deste cortejo de oferendas e onde a nossa terra foi condignamente representada. O tom garrido e o colorido multicor mais faziam sobressair os dotes femininos das beldades – moças da nossa aldeia.
Recordo a saudável azafama da nossa gente para que tudo corresse pelo melhor. Houve pelo menos dois incidentes que marcaram o percurso do cortejo. Na passagem pela sede da freguesia quiseram incorporar um carro de pinheiros e enfeitado com carolo de milho. Na recusa, os ânimos exaltaram-se, mas o bairrismo e a boa vontade das pessoas veio ao decima e tudo foi sanado a contento de todos, prevalecendo a vontade da aldeia mais a sul do concelho.
Na descida junto à casa dos Condes da Anadia, devido ao grande gelo, criou a Polícia de Viação e Trânsito um problema por um animal ter caído e o cortejo ter de parar.Homens, com letra grande, desse tempo, mostraram às autoridades de então, não ser hora, dia e lugar para imposições. Com aparente calma, tudo se resolveu a contento de todos.
Na descida junto à casa dos Condes da Anadia, devido ao grande gelo, criou a Polícia de Viação e Trânsito um problema por um animal ter caído e o cortejo ter de parar.Homens, com letra grande, desse tempo, mostraram às autoridades de então, não ser hora, dia e lugar para imposições. Com aparente calma, tudo se resolveu a contento de todos.
O ensaio dos músicos e o acerto dos 40 pares foi feito na antiga escola.Além dos 5.020$00 em dinheiro, Abrunhosa ofereceu ao Hospital três carros de troncos de pinheiro e três de géneros alimentícios. Nessa altura dizia-se: “foi a Abrunhosinha, a povoação que mais contribuiu para o Hospital”. Nesse dia 9 de Dezembro de 1956 os componentes do nosso rancho não temeram os olhares das muitas centenas de pessoas que nos apreciavam à passagem, o cantar harmonioso e o aspecto impecável mereceu entusiásticos aplausos.
Lembro-me de ver as casas da Vila de janelas engalanadas e na passagem do nosso rancho, carros e moinho, as pessoas gritavam vivas à Abrunhosa, saudando assim a garbosa embaixada da nossa aldeia.
Passado meio século, mais admiro o que era o bairrismo da gente desta laboriosa terra, pois aproveitavam a oportunidade deste e de doutros eventos para melhorar as boas relações de simpatia e amizade que sempre se verificaram entre a Abrunhosa e Mangualde.
Do meu alto das fiandeiras, cinquenta anos depois, envio aos ainda vivos uma saudação especial de amizade. Aos que já partiram curvo-me respeitosamente perante a sua memória. E deixem-me dizer: Em tão pouco tempo era impossível fazer melhor.
A marcha que levámos ao cortejo tinha a música muito bonita e fácil de cantar, tinha a seguinte letra feita pelos poetas anónimos do nosso povo:
Quero ser bom, hei-de ser
Hei-de fazer todo o bem
Se for preciso fazer
Mesmo sem olhar a quem
Espalhar liberalmente
O bem fazer caridade
É o dever de toda a gente
Na semana da bondade
Fazer o bem afinal
Que deve ser todos os dias
Façam todos por igual
Sem olhar à simpatia
Portugal em todo o mundo
É o primeiro entre as nações
Ele belo e fecundo
Vive nos nossos corações
Hei-de fazer todo o bem
Se for preciso fazer
Mesmo sem olhar a quem
Espalhar liberalmente
O bem fazer caridade
É o dever de toda a gente
Na semana da bondade
Fazer o bem afinal
Que deve ser todos os dias
Façam todos por igual
Sem olhar à simpatia
Portugal em todo o mundo
É o primeiro entre as nações
Ele belo e fecundo
Vive nos nossos corações
Tambem no meu concelho houveram cortejos desses, em beneficio do hospital da mesericordia.
E agora ja ve, nao so ja nao temos hospital, como os centros de saude, nao tem emergencias e sao nada mais que consultorios medicos, ainda dizem que estamos melhor servidos!!!
Um abraco d'Algodres
Li o artigo quando saiu no NB. Gostei. Abrunhosa sempre foi uma aldeia progressiva. Actualmente acho-a mais "conservadora", pouco dada a manifestações de qualquer índole. São outros tempos...
Bom dia, Alex. Minha mãe (Mercês Ribeiro, filha do falecido Manuel António Ferreiro) sempre fala desse cortejo de oferendas. Se não me engano, a letra desses versos foram escritas pelo saudoso Prof. Octacílio, que vem a ser primo da minha mãe. Vou conferir a veracidade e volto a postar aqui. Amo vir ao teu cantinho matar as saudades da nossa Abrunhosa. Bjos.
Caro Alex
Parabéns pela sua iniciativa de chamar a atenção para as terras do interior tão esquecidas pelos homens do Poder central. Continue a valorizar as características e os eventos da região. O interior precisa de ser realçado, a fim de os políticos aprenderem que ele existe e também é Portugal.Quis enviar-lhe por e-mail um artigo que publiquei em DO MIRANTE e que versa o interior da Beira Alta, com o título O INTERIOR PORTUGUÊS ESTÁ OSTRACIZADO.
Se desejar pode publicá-lo nos seus blogues.
Temos que fazer intercâmbio de links e referências nos nossos trabalhos por forma a chamar a atenção para escritos que mereçam ser divulgados para bem do País, através do esclarecimento das pessoas. Os visitantes e comentadores situam-se num círculo estreito e temos de levar as ideias construtivas até mais longe.
Abraços e parabéns pela forma como está a defender a sua terra.
A. João Soares
Olá Ciça (prima)!
Já confirmou a autoria dos versos?Se for verdade o que diz será uma agradável surpresa para mim.
Beijinhos
Uma Pascoa feliz com tudo de bom, lhes deseja o Al d'Algodres.
Oi, Alex, voltei para corrigir alguns enganos. Pelo meu conhecimento, a Abrunhosa fez pelo menos 3 cortejos. Do 1º, no final da guerra, participaram minha mãe (sra. Mercês Ribeiro) e minha tia (Sra. Flávia Mendes Rodrigues), do 2º, em 1956, participou o nosso ilustre cronista e do 3º, já pela década de 60, alguns primos meus. A cantiga utilizada neles foi feita para a 1ª apresentação, não pelo Prof. Octacílio, como eu havia dito, mas por um tio dele, o Sr. Aristides, "barbeiro" da localidade e muito bem conceituado entre os seus pois cuidava de todos com igual desvelo e sabedoria, mandando os casos mais graves para Coimbra, onde aliás havia estudado. A música foi composta por um Sr. Ilídio, talvez Fonseca, não sei ao certo, filho de um Sr. António Simão, pessoa também de grande relevância à sua época. Como já afirmei, seria muito bom se tivéssemos uma forma de preservar estas memórias...tantas são as coisas que se perdem com o tempo...só preso na memória dos que ainda cá estão...beijos saudosos, Ciça
Oi, Alex, voltei para corrigir alguns enganos. Pelo meu conhecimento, a Abrunhosa fez pelo menos 3 cortejos. Do 1º, no final da guerra, participaram minha mãe (sra. Mercês Ribeiro) e minha tia (Sra. Flávia Mendes Rodrigues), do 2º, em 1956, participou o nosso ilustre cronista e do 3º, já pela década de 60, alguns primos meus. A cantiga utilizada neles foi feita para a 1ª apresentação, não pelo Prof. Octacílio, como eu havia dito, mas por um tio dele, o Sr. Aristides, "barbeiro" da localidade e muito bem conceituado entre os seus pois cuidava de todos com igual desvelo e sabedoria, mandando os casos mais graves para Coimbra, onde aliás havia estudado. A música foi composta por um Sr. Ilídio, talvez Fonseca, não sei ao certo, filho de um Sr. António Simão, pessoa também de grande relevância à sua época. Como já afirmei, seria muito bom se tivéssemos uma forma de preservar estas memórias...tantas são as coisas que se perdem com o tempo...só preso na memória dos que ainda cá estão...beijos saudosos, Ciça
Ciça:
Se o autor da música é o sr. Ilídio, filho de António "Simão" (meu avô, António Abrantes Almeida), então trata-se de Ilídio Abrantes, meu tio, autor, entre outras músicas, do Hino do Centro Recreativo e Desportivo Abrunhosense.
Não sabe, porventura, o nome da música desse cortejo?
Cumprimentos.
Sílvio Abrantes
Que saudosismos de outros tempos esta gente tem...