FALECEU O SR. AMÍLCAR ABRANTES
O fim dos inseparáveis - Amílcar e Virinha.
A maior história de amor que esta aldeia conheceu
Com 91 anos, faleceu no dia 4 de Março de 2008 o Sr. Amílcar Abrantes, pessoa muito estimado nesta localidade. Era viúvo da Sr.ª D. Elvira Morais Abrantes, falecida aos 81 anos.
Enquanto vivos consideravam-se sempre o casal mais feliz do mundo. Por se tratar dum caso de amor inédito neste lugar, vale a pena recordarmos um pouco da sua vida. A sua juventude ainda está bem presente na lembrança das pessoas idosas desta terra.
Nascidos os dois em 1916, nesta aldeia, ela filha dum considerado proprietário e ele filho do mestre alfaiate e Regente da saudosa Filarmónica Abrunhosense. Amílcar e Virinha cedo se apaixonaram e foram protagonistas da maior história de amor que há memória nesta região. Tudo começou aos sete anos de idade quando se encontraram na Escola Primária, na mesma professora. Entreolharam-se várias vezes, sorriram, e logo se tornaram muito amigos, os dois colegas de escola preferidos.
O Amílcar que aos sete anos já tocava flautim na Filarmónica Abrunhosense e já sabia ler e escrever correctamente começou a ensinar a Virinha em todos os trabalhos escolares.
O tempo foi passando. A simpatia, a amizade e a afeição aumentaram dia a dia, os sorrisos continuavam a todo o momento e o amor foi-se apoderando dos seus ainda inocentes corações sem eles darem por isso. Era o início dum amor sem igual, o amor mais forte e sincero do mundo. Levaram assim todo o tempo de escola e nunca mais se separaram, nem um só dia, durante toda a sua vida.
Foram dois alunos brilhantes e aos dez anos fizeram o exame da 4ª classe com distinção.
Ora, feito o exame terminou a escola e foi então que o amor explodiu e começou o sofrimento. No dia seguinte as saudades eram tantas que logo se encontraram junto da casa da Virinha e ali, numa das suas janelas laterais, ocultas pela ramagem duma frondosa figueira, eles desabafaram tudo o que sentiam nos seus corações.
Eram dois jovens felizes, tinham descoberto que, afinal, tudo o que existia entre eles desde crianças era amor, coisa que eles desconheciam até esse dia: Mas um amor tão puro, tão sincero e tão verdadeiro que não podiam viver um sem o outro. Então, muito em segredo mutuamente que nunca se deixavam, juraram amor eterno, juraram fidelidade mútua e cumpriram a sua palavra.
A partir desse momento eles ficaram a considerar-se um do outro para sempre, o seu amor era sagrado e ninguém mais no mundo conseguiu afastá-los. O futuro de Amílcar e Virinha ficou ali traçado, por eles próprios, aos dez anos de idade.
Os familiares do Amílcar sentiam-se orgulhosos pois todos adoravam a Virinha pela sua beleza e simplicidade. Vê-la na sua família seria um enorme prazer. Do outro lado, os familiares da Virinha, esses sentiam se preocupados porque estas crianças ainda não tinham idade para namorar, mas tendo já conhecimento destes amores desde o início da escola, sabendo também que estas afeições de crianças enfeitiçam os seus corações para toda a vida e vendo que eles eram dignos um do outro, os pais da Virinha confiaram na filha e não ousaram contrariá-la porque o amor de crianças é verdadeiro e só aparece uma vez na vida.
O Amílcar aprendeu a profissão de alfaiate com seu pai e seus irmãos e a Virinha aprendeu a costureira com a melhor modista da terra. Desde a escola até ao casamento, durante dez anos, nunca passaram nem um só dia sem namorar e sem uma única zanga. Na povoação não havia memória dum amor assim e a partir dos seus dezassete anos então é que toda a população da aldeia ficou ciente que Amílcar e Virinha eram inseparáveis.
Ninguém conseguiu afastá-los.
Naquele tempo a riqueza contava muito, havia até um ditado popular que dizia: "vale quem tem". Ora, a Virinha com as suas dezassete primaveras era uma jovem maravilhosa, um encanto de rapariga, muito bonita; prendada e possuidora de grandes virtudes. Perante tudo isto alguns rapazes ricos, filhos de famílias abastadas, não resistiram e pensando tirar proveito desse seu privilégio, da riqueza, tentaram tudo o que estava ao seu alcance para conquistarem a Virinha propondo-lhe casamento imediato e um futuro cheio de regalias. Mas, tudo em vão. Ninguém o conseguiu.
A Virinha recusou tudo e todos, dizendo: "Quem manda no meu casamento é o meu coração, é o amor e não a riqueza." E assim foi. Amílcar e Virinha amavam-se desde crianças, casaram aos vinte anos com todo o respeito e dignidade que nesse tempo eram exigidos e foi o casal mais feliz do mundo. Logo após o casamento o Sr. Amílcar tirou o curso de Regente Escolar. Entre oitenta concorrentes foi o segundo melhor classificado e esteve a dar aulas aqui bem perto, na escola Primária da vizinha povoação de Vila Ruiva. Ele professor e a esposa costureira viviam maravilhosamente, mas não se ficaram por aqui. Entretanto seus irmãos mais velhos emigraram para Congo Belga, e ao fim de alguns anos como professor os inseparáveis Amílcar e Virinha seguem o mesmo caminho. Ausentaram-se também para o dito Congo Belga chamados por seus irmão.
Lá viveram algum tempo, a vida correu-lhes bem, nasceu lá o seu filho e logo que ele chegou à idade escolar regressaram definitivamente a Portugal para ele aqui fazer os estudos superiores. Nessa altura a D. Virinha foi a primeira senhora que aqui se viu, nesta aldeia, a conduzir um automóvel. Naquele tempo, aqui, nem os homens conduziam pois os carros eram raríssimos. Mandaram construir a sua moradia perto dos seus familiares e cá ficaram a viver felizes, sempre como dois namorados, nos mesmos lugares da sua infância.
Passados alguns anos o Sr. Amílcar e seus irmãos Ilídio e Virgílio sem dúvida os três melhores músicos de sempre que houve em Abrunhosa do Mato, ainda organizaram o afamado Agrupamento Musical "Irmãos Abrantes" que tanto nos deliciou com a sua música popular durante alguns anos.
Aquele amor tão forte, tão profundo, que prendeu Amílcar e Virinha na sua juventude manteve-se sempre com a mesma vivacidade, no fundo dos seus corações, durante todo o seu viver. Eles não podiam contrariar-se. O amor estava sempre acima de tudo.
O seu caderno de memórias, onde eles recordam pormenorizadamente toda a sua vida, é um verdadeiro romance de amor e devia ser publicado para que as futuras gerações abrunhosenses conhecessem sempre a maior história de amor que há memória, passada na sua aldeia. Ainda em vida, os dois, eles mandaram fazer uma lápide para ser colocada sobre a sua campa, no cemitério de Abrunhosa do Mato, depois da morte do último. Nessa lápide, agora exposta no seu devido lugar, eles deixaram bem gravada toda a sua vida nesta simples inscrição:
Elvira e Amílcar
Amor sem igual
Dez anos, éramos crianças
Na escola nos apaixonamos
Foi um amor tão profundo
Que não mais nos separámos
Fomos o casal mais feliz
De toda a humanidade e
O nosso amor continua
Também na eternidade
Paz às suas almas e sentidas condolências a toda a família, em particular ao seu filho, Eng.º António Joaquim Morais Abrantes, casado com a Dra Maria Fernanda Rebelo Abrantes e aos seus três netos, Eng.º Pedro Miguel, Dr.ª. Maria Cristina e a jovem Ana Filipa, residentes em Vila Nova de Famalicão.
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Enquanto vivos consideravam-se sempre o casal mais feliz do mundo. Por se tratar dum caso de amor inédito neste lugar, vale a pena recordarmos um pouco da sua vida. A sua juventude ainda está bem presente na lembrança das pessoas idosas desta terra.
Nascidos os dois em 1916, nesta aldeia, ela filha dum considerado proprietário e ele filho do mestre alfaiate e Regente da saudosa Filarmónica Abrunhosense. Amílcar e Virinha cedo se apaixonaram e foram protagonistas da maior história de amor que há memória nesta região. Tudo começou aos sete anos de idade quando se encontraram na Escola Primária, na mesma professora. Entreolharam-se várias vezes, sorriram, e logo se tornaram muito amigos, os dois colegas de escola preferidos.
O Amílcar que aos sete anos já tocava flautim na Filarmónica Abrunhosense e já sabia ler e escrever correctamente começou a ensinar a Virinha em todos os trabalhos escolares.
O tempo foi passando. A simpatia, a amizade e a afeição aumentaram dia a dia, os sorrisos continuavam a todo o momento e o amor foi-se apoderando dos seus ainda inocentes corações sem eles darem por isso. Era o início dum amor sem igual, o amor mais forte e sincero do mundo. Levaram assim todo o tempo de escola e nunca mais se separaram, nem um só dia, durante toda a sua vida.
Foram dois alunos brilhantes e aos dez anos fizeram o exame da 4ª classe com distinção.
Ora, feito o exame terminou a escola e foi então que o amor explodiu e começou o sofrimento. No dia seguinte as saudades eram tantas que logo se encontraram junto da casa da Virinha e ali, numa das suas janelas laterais, ocultas pela ramagem duma frondosa figueira, eles desabafaram tudo o que sentiam nos seus corações.
Eram dois jovens felizes, tinham descoberto que, afinal, tudo o que existia entre eles desde crianças era amor, coisa que eles desconheciam até esse dia: Mas um amor tão puro, tão sincero e tão verdadeiro que não podiam viver um sem o outro. Então, muito em segredo mutuamente que nunca se deixavam, juraram amor eterno, juraram fidelidade mútua e cumpriram a sua palavra.
A partir desse momento eles ficaram a considerar-se um do outro para sempre, o seu amor era sagrado e ninguém mais no mundo conseguiu afastá-los. O futuro de Amílcar e Virinha ficou ali traçado, por eles próprios, aos dez anos de idade.
Os familiares do Amílcar sentiam-se orgulhosos pois todos adoravam a Virinha pela sua beleza e simplicidade. Vê-la na sua família seria um enorme prazer. Do outro lado, os familiares da Virinha, esses sentiam se preocupados porque estas crianças ainda não tinham idade para namorar, mas tendo já conhecimento destes amores desde o início da escola, sabendo também que estas afeições de crianças enfeitiçam os seus corações para toda a vida e vendo que eles eram dignos um do outro, os pais da Virinha confiaram na filha e não ousaram contrariá-la porque o amor de crianças é verdadeiro e só aparece uma vez na vida.
O Amílcar aprendeu a profissão de alfaiate com seu pai e seus irmãos e a Virinha aprendeu a costureira com a melhor modista da terra. Desde a escola até ao casamento, durante dez anos, nunca passaram nem um só dia sem namorar e sem uma única zanga. Na povoação não havia memória dum amor assim e a partir dos seus dezassete anos então é que toda a população da aldeia ficou ciente que Amílcar e Virinha eram inseparáveis.
Ninguém conseguiu afastá-los.
Naquele tempo a riqueza contava muito, havia até um ditado popular que dizia: "vale quem tem". Ora, a Virinha com as suas dezassete primaveras era uma jovem maravilhosa, um encanto de rapariga, muito bonita; prendada e possuidora de grandes virtudes. Perante tudo isto alguns rapazes ricos, filhos de famílias abastadas, não resistiram e pensando tirar proveito desse seu privilégio, da riqueza, tentaram tudo o que estava ao seu alcance para conquistarem a Virinha propondo-lhe casamento imediato e um futuro cheio de regalias. Mas, tudo em vão. Ninguém o conseguiu.
A Virinha recusou tudo e todos, dizendo: "Quem manda no meu casamento é o meu coração, é o amor e não a riqueza." E assim foi. Amílcar e Virinha amavam-se desde crianças, casaram aos vinte anos com todo o respeito e dignidade que nesse tempo eram exigidos e foi o casal mais feliz do mundo. Logo após o casamento o Sr. Amílcar tirou o curso de Regente Escolar. Entre oitenta concorrentes foi o segundo melhor classificado e esteve a dar aulas aqui bem perto, na escola Primária da vizinha povoação de Vila Ruiva. Ele professor e a esposa costureira viviam maravilhosamente, mas não se ficaram por aqui. Entretanto seus irmãos mais velhos emigraram para Congo Belga, e ao fim de alguns anos como professor os inseparáveis Amílcar e Virinha seguem o mesmo caminho. Ausentaram-se também para o dito Congo Belga chamados por seus irmão.
Lá viveram algum tempo, a vida correu-lhes bem, nasceu lá o seu filho e logo que ele chegou à idade escolar regressaram definitivamente a Portugal para ele aqui fazer os estudos superiores. Nessa altura a D. Virinha foi a primeira senhora que aqui se viu, nesta aldeia, a conduzir um automóvel. Naquele tempo, aqui, nem os homens conduziam pois os carros eram raríssimos. Mandaram construir a sua moradia perto dos seus familiares e cá ficaram a viver felizes, sempre como dois namorados, nos mesmos lugares da sua infância.
Passados alguns anos o Sr. Amílcar e seus irmãos Ilídio e Virgílio sem dúvida os três melhores músicos de sempre que houve em Abrunhosa do Mato, ainda organizaram o afamado Agrupamento Musical "Irmãos Abrantes" que tanto nos deliciou com a sua música popular durante alguns anos.
Aquele amor tão forte, tão profundo, que prendeu Amílcar e Virinha na sua juventude manteve-se sempre com a mesma vivacidade, no fundo dos seus corações, durante todo o seu viver. Eles não podiam contrariar-se. O amor estava sempre acima de tudo.
O seu caderno de memórias, onde eles recordam pormenorizadamente toda a sua vida, é um verdadeiro romance de amor e devia ser publicado para que as futuras gerações abrunhosenses conhecessem sempre a maior história de amor que há memória, passada na sua aldeia. Ainda em vida, os dois, eles mandaram fazer uma lápide para ser colocada sobre a sua campa, no cemitério de Abrunhosa do Mato, depois da morte do último. Nessa lápide, agora exposta no seu devido lugar, eles deixaram bem gravada toda a sua vida nesta simples inscrição:
Elvira e Amílcar
Amor sem igual
Dez anos, éramos crianças
Na escola nos apaixonamos
Foi um amor tão profundo
Que não mais nos separámos
Fomos o casal mais feliz
De toda a humanidade e
O nosso amor continua
Também na eternidade
Paz às suas almas e sentidas condolências a toda a família, em particular ao seu filho, Eng.º António Joaquim Morais Abrantes, casado com a Dra Maria Fernanda Rebelo Abrantes e aos seus três netos, Eng.º Pedro Miguel, Dr.ª. Maria Cristina e a jovem Ana Filipa, residentes em Vila Nova de Famalicão.
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Nota: Sendo desejo do finado, que este texto fosse divulgado após a sua morte, como testemunho do amor que o uniu à sua esposa. O Blog da Abrunhosa do Mato publica-o neste artigo, enviando sentidas condolências a todos os seus familiares.
Doeu-me a alma quando soube da notícia, pois para além de desde miúdo ter convivido amiíude com tal Senhor, tive a honra e o prazer de com ele tocar no extinto conjunto musical "Irmãos Abrantes".
Grande músico, excelente baixista, muito aprendi com ele...musicalmente e da vida...
Mais um amigo que eu perdi...resta-me a boa memória que dele tenho.
Gostei muito de ler esta historia!
Parabens por homenagear os que partem, e uma atitude muito bonita da vossa parte!
Um abraco de amizade dalgodrense.
eu também conheci o SR. AMÍLCAR ABRANTES, embora não tenha convivido muito com ele, mas quando eu o encontrava nas ruas da abrunhosa, ou por vezes ele me dava uma buleia, sempre me pareceu uma pessoa muito Simpática e inteligente. já não se vêm muitas pessoas assim. alex fica-te muito bem fazeres homenagens a pessoas como o SR. AMÍLCAR ABRANTES.
um abraço