03 maio 2006

O Cambão

Raro é o poço antigo da Abrunhosa que não tenha ao seu lado um grande esteio de granito. Mas também começa a ser vulgar ouvir os mais novos questionar sobre a sua utilidade.
Os cambões (picotas, cegonhas, balanças, burras, burras- cegas, picanços, saragonhas, varolas, zabumbas, ou zagarelas) são instrumentos de rega e destinam-se a elevar a água do fundo dos poços com maior facilidade.

Constituídos por um esteio robusto que serve de apoio a uma vara grossa, fixada a um eixo no seu topo, estes engenhos funcionam como uma alavanca quase em equilíbrio. Numa das extremidades fixa-se uma vara mais fina com um balde preso na ponta. Na outra extremidade coloca-se um contrapeso (geralmente uma pedra em granito), para o conjunto ficar equilibrado.

Para os pôr a funcionar, basta aproveitar o peso do próprio corpo e alguma energia de braços, puxar a vara fina e o balde até ao fundo do poço, mergulhar o balde na água e enchê-lo. Depois, basta puxar no sentido inverso para se trazer a água à superfície. Com o balde cheio o conjunto fica mais leve (quase em equilíbrio), o que torna o trabalho de elevação da água do fundo do poço mais facilitado.
Esta técnica de regadio já era conhecida na Mesopotâmia no terceiro milénio AC, mas por ser muito utilizada pelos povos Árabes, pensa-se que só no séc.VIII foi introduzida na Península Ibérica aquando das invasões muçulmanas.

Desenho feito na Mesopotâmia - Datação: entre 2200 e 2400 AC

Na última metade do séc. XX, com a introdução das bombas motorizadas e sobretudo no último quartel deste século com a sua vulgarização, esta técnica de rega caiu em desuso.

Mas, com o preço dos combustíveis a aumentar todos os dias, será que os árabes nos irão forçar a utilizar estes engenhos de novo?

7 Comentário(s):

Blogger Al Cardoso disse...

Gostei da ultima parte. Na realidade se nos tivessemos usado a nossa criatividade, ja tinhamos desenvolvido outras formas de energia e, hoje nao estariamos tao dependentes dos arabes, a ter sido assim, hoje eles e que estariam a pedir-nos por favor para lhe comprar-mos um pouquito de "pitrol"

5:54 da manhã  
Blogger Fornense disse...

hehe.. será que eles tiram assim o petroleo? :)
belo post.. ca por fornos tambem ha destas coisas.. que agora ja sei como se chama.. cambão.. la vou ter que ensinar mais uma palavra ao pessoal! :)
grande abraço!

11:54 da manhã  
Blogger Neoarqueo disse...

ERm questões de "energia" parece que nós na Peninsula estamos dependentes dos Moiros deste o ano 700...
Bom apontamento de Arqueologia Tecnológica.

11:28 da tarde  
Blogger Zel disse...

Pois é meu amigo, ainda me lembro utilizar o "engenho" como se chama cá na terrinha.

Parabéns pela montagem técnica

Obrigado pelo apoio.

Grande abraço

1:09 da tarde  
Blogger JL disse...

Bom, o Neoarqueo parece que se mudou para aqui :-). Bom apontamento.

12:51 da tarde  
Blogger [A] disse...

:))...na zona da Meda eram chamados de burros e diga-se que sei perfeitamente como funcionam porque em míuda ajudava o meu pai na rega da horta exactamente com um desses.por ser realmente fácil era eu quem retirava a água.
o meu pai tb me chegou a fazer um em miniatura para as minhas brincadeiras...o entusiasmo foi tal que ao girá-lo para o exibir aos outros miudos "rachei" a cabeça de um com a tal pedra....
segui-se a típica cena das aldeias: discussão de ambas as progenitoras seguidas de meses de realções cortadas!!!!:(
abrunhosa

5:22 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Em Vila Ruiva chama-mos isto de CAVALEIRO, já tirei muita água com eles, até tenho uma pedra dessas ( contra peso )aqui em casa q trouxe daí,( foi a minha mãe que ma deu ) apesar de serem os Mouros que trouxeram isto para cá, eu nunca vi nada semelhante aqui no Algarve .

11:35 da tarde  

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